Florentino Teles de Menezes
nasceu em 1886, em Aracaju, sendo seus pais Álvaro Teles de Menezes (médico) e
Francina Teles de Menezes.
Fez os estudos iniciais em
Aracaju, onde concluiu os preparatórios, após o que mudou-se para Recife a fim
de estudar Engenharia. Depois, transferiu-se para o Rio de Janeiro , onde foi
acometido de beribéri e abandonou os estudos. Recuperando a saúde, resolveu
estudar Medicina na capital da República mas desistiu da idéia, Mudou-se para a
Bahia, onde matriculou-se na Faculdade de Medicina, e abandonou o curso no
terceiro ano médico.
Retornando a Aracaju, foi nomeado,
em janeiro de 1912, 2º Escriturário do Tesouro do Estado. Bastante animado, alimentou muitas idéias meritórias..
Uma delas foi a da criação do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Impulsionado
por esta idéia,, iniciou uma série de contatos, Quando julgou que a iniciativa
estava amadurecida, reuniu 21 personalidades
influentes e promoveu o ato de fundação, em 06 de agosto de 1912. Abriu a
sessão, explicou a finalidade da Instituição e sugeriu o nome de João da Silva
Melo para seu primeiro presidente, o que foi aceito por todos. Florentino não presidiu
o Instituto mas ajudou, como membro da diretoria ou de suas comissões, e de tal
modo o fez que o seu nome ficou incorporado à História..
Leitor assíduo dos clássicos, familiarizou-se
com as diversas tendências literárias, sobretudo com as obras dos positivistas e
evolucionistas como Augusto Comte, Spencer e Durkheim, dos socialistas como
Novococ, Eduard Bernstein e Gustave Le Bom e dos individualistas como
Nietzsche. Assimilado o pensamento destes autores, dedicou-se a escrever e divulgar
seus ensinamentos, Foi assim que publicou, naquele ano de 1912, sua primeiro
livro, intitulado “Estudo Corográfico e Social do Brasil”, no qual questionou a
divisão territorial do país. Em 1913, editou “Leis de Sociologia Aplicada ao
Brasil”, abordando o desenvolvimento e o progresso à luz das leis sociológicas.
Em 1916, deu à luz a obra “Desenvolvimento Intelectual dos Povos” e, em 1917, editou
seu quarto trabalho, intitulado “Escola Social Positiva”, no qual defendeu 4 princípios:
1-Substituição da atual
aristocracia capitalistas por uma aristocracia intelectual,
2-Passagem da propriedade e do
capital para a coletividade por meio de empresas autônomas,
3-Manutenção e educação do
indivíduo até a finalização de sua formação universitária,
4-Reconhecimento dos direitos civis e políticos da mulher.
As greves ocorridos em São Paulo, provocaram
intensa reação em seu espírito, o que o levou a publicar “A More de um Regime”,
inspirado na Revolução Bolchevista. Para ele o operariado brasileiro ainda não
tinha alcançado o grau de cultura indispensável para a conquista de seus
direitos, pelo que o movimento grevista de São Paulo não teve repercussão em Aracaju.
Nesta linha de pensamento afirmou que “a maioria dos intelectuais de Sergipe,
residente no Estado, ou são infensos ao socialismo ou pelo menos encaram-no com
uma indiferença que nos enche de desânimo e tristeza.”
A partir de então, passou de simples
teórico para ativista militante, promovendo reuniões com o objetivo de discutir
os direitos do povo e com isto conseguir uma transformação social. Surgiram reações
tão fortes que se espalhou a notícia de que ele estava promovendo um movimento subversivo.
Tentou aproximar-se do Centro Operário, mas apenas seis ou oito sócios lhe
deram ouvidos. Face tamanha decepção, tentou transformar o Centro Operário em
uma sociedade de propaganda socialista, ou criar um novo Centro Operário,
totalmente deferente. Optou pelo segundo caminho e continuou escrevendo artigos
expondo sua proposta. Em um desses artigos, intitulado “A Propaganda Socialista
em Sergipe” declarou-se franco partidário da Revolução, revolução que se processaria,
não através do punhal, do veneno, ou da
dinamite, e sim por meio da palavra, das idéias, do amor, da paz, da esperança
e da justiça. Assim procedendo, elogiou o presidente do Estado, Oliveira Valadão,
e prestigiou o exército e a armada. Para espanto de alguns, foi nomeado Alferes do Primeiro Batalhão de
Infantaria da Guarda Nacional de Aracaju.
Nesta altura reuniu seus artigos
em um opúsculo denominado “Partido Socialista Sergipano, Apelo ao Centro
Operário” e lançou um manifesto convocando as classes para participarem da criação do “Centro
Socialista Sergipano”, O Centro foi fundado em 19 de março de 1918, em
solenidade pública realizada na Biblioteca Pública. Discursando na ocasião,
declarou que “o ideal socialista é o único capaz de salvar o homem moderno da
degradação moral em que caiu; ele é o ideal do amor, da verdade e da justiça. Já
é tempo de começar a luta. Na Rússia a República Socialista já é uma realidade”.
A solenidade contou com a presença de 57 pessoas que escolheram Manoel Passos
de Oliveira Teles presidente, o qual também discursou. O professor José de
Alencar Cardoso, diretor do Colégio Tobias Barreto, foi eleito 1º Vice
Presidente e o professor Artur Fortes escreveu o hino socialista sergipano, No
dia 14 de julho, em comemoração a Queda da Bastilha, Helvécio Andrade
pronunciou uma palestra, com o título “Socialismo e República”, e no dia 15 de
setembro foram discutidos e aprovados os estatutos da entidade. No mesmo ano de
1918, Florentino fundou o Centro Pedagógico Sergipano que também não foi
avante.
Em 19 de maio de 1923, Florentino
criou o Centro de Propaganda pelo Voto Secreto e foi um de seus mais ativos
participantes.
Em 1925, com a Reforma Rocha Vaz,
foi instituída a disciplina de Sociologia Geral, na grade curricular do ensino médio. Florentino concorreu ao concurso
com a tese “Estudo de Sociologia. O Processo de Seleção da Sociedade”.
Aprovado, tomou posse em 1926 como professor catedrático do Colégio Ateneu D.
Pedro II, do qual foi, no ano seguinte, vice-diretor. Em 1928, fez parte do
Conselho de Ensino do referido estabelecimento de ensino.
Em 1928, lançou a idéia de
transformar a Serra de Itabaiana em um centro turístico e, no mesmo ano,
iniciou a campnha em favor da sede própria do Instituto Histórico e Geográfico
de Sergipe.
Em 1929, participou da fundação
da Academia Sergipana de Letras, onde ocupou a cadeira 28, cujo patrono é
Antônio Fernandes da Silveira.
Na década de 1930, atingiu o
ápice de seu prestígio e reconhecimento.
Correspondia-se com sociólogos do Brasil e de outros países e enviava seus
trabalhos (que eram bem recebidos) para intelectuais da Argentina, do México e
da Europa.
Dentre as honrarias recebidas,
destacamos a de sócio correspondente de vários Institutos Históricos
brasileiros, medalhas de ouro e de prata
da Sociedade Acadêmica de História Internacional de Paris, membro honorário da Academia de Física e
Química da Itália e “Ramo de Ouro” da Academia Latina de Ciências, Artes e
Belas Letras.
Em 1946, publicou mais um livro, “Sociedade
e Sacrifício” e foi homenageado na solenidade comemorativa dos 34º ano de
fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Em 1953, o prefeito
Marcos Ferreira de Jesus sancionou lei denomiando com o nome de Florentino
Menezes, a antiga rua São Vicnte.
Afastado da cátedra, morando com
suas irmãs na Rua Pacatuba, em Aracaju, foi se isolando cada vez mais dos intelectuais e da sociedade de Sergipe.. Quando
sua aposentadoria se tornou insuficiente para sua manutenção, a Assembléia Legislativa
aprovou a recuperação de seus proventos.
Apesar disso, não teve o recurso para editar seu último livro, o que só foi possível
graças a intermediação de terceiros, em 1952.
A respeito dos últimos anos de
Florentino Menezes, disse José Ibarê Costa Dantas (historiador e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, de quem extraímos esta pequena biografia): “Velhice de
homem adoentado, solitário, amargurado e nervoso, que chegou a evitar até a presença de parentes.
Alguns intelectuais vez por outra divulgavam na imprensa notas sobre a receptividade
que sua obra encontrava no exterior e isso o confortava. Cada vez mais
adoentado, alguns parentes e amigos assistiram-no até 20 de novembro de 1959,
quando faleceu o grande pioneiro da Sociologia em Sergipe que agitou e iluminou
o meio intelectual do seu Estado com sensibilidade, lucidez e capacidade de
visualização.”